Conheci o trabalho da artista têxtil Liciê Hunche faz mais de 10 anos. Logo na primeira conversa, fiquei fascinada em contar visualmente o processo dela: a criação das ovelhas trazidas de longe, o beneficiamento manual da lã, o tingimento natural e o tecer.  Anos se passaram e a amizade com a família foi crescendo, o que me deu espaço de propôr e executar esse projeto.  A Liciê foi pioneira na criação das ovelhas Karakul no Brasil. Começou com poucas cabeças na sua fazenda em Canela, no Rio Grande do Sul, e chegou a ter um rebanho de mais de 200 animais. A Karakul é reconhecida por ser um ovelha 'naturalmente colorida', com muitos subtons originais, entre o preto e o branco. Para Liciê essas cores inspiraram a criação de uma vasta obra em tapeçaria a partir dos anos 70, que hoje estão em museus e coleções particulares. Curiosa como era, investiu em dominar o processo dos tingimentos naturais a partir das plantas da região, e sua paixão resgatou a atividade de uma rede de artesãs, que estavam perdendo espaço pra indústria, o que ajudou a perpetuar a técnica de fiar, tingir e tecer. Seu atelier na Zona Sul de Porto Alegre, foi comissionado ao maior arquiteto auto-didata brasileiro, Zanine Caldas, nos anos 80 e abriga rocas, teares e uma coleção infindável de lãs de todas as cores. Tudo isso cercado de muita natureza e ao lado de objetos do artesanato indígena brasileiro, uma das suas paixões. Liciê faleceu em 2017, mas a sua obra e legado permanecem vivos, registrados e guardados no atelier, onde hoje funciona o escritório de arquitetura da sua neta Julia Weinschenk, que ainda mantém o espaço Kreative Villa, dedicado à difusão das artes têxteis. 
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